Acervo Maçônico no Museu Histórico Nacional
Por:Jussara Faria Cestari


O artigo apresenta o acervo maçônico do Museu Histórico Nacional composto de 15 peças, e procura de forma concisa analisar a importância da presença maçônica na formação da idéia de nação bem como a da restauração desse acervo. Tendo como destaque duas peças de indumentária o avental e faixa supostamente pertencente a D. Pedro I.

Introdução
O Museu Histórico Nacional desde a sua criação em 1922 seguia os moldes da historiografia voltada para grandes feitos históricos modelo dos museus franceses após a Revolução Francesa. O acervo coletado era baseado nessa característica de recolher o que representasse seguimentos da sociedade relativo a fatos políticos, histórico, heróico ou de caráter exótico.

Hoje, portanto, o museu, sendo instância de memória, compreende que trabalhar com a heterogeneidade, a realidade dos fatos, por mais diferentes característica e local que ela esteja, significa que ele exerce sua capacidade articulativa e dinâmica de integrar o homem a sua realidade. Para tal, trabalha a memória, identidade e patrimônio em todos os sentidos, reconstruindo o passado mesmo que fragmentado. Refletir o passado no presente para que uma nova perspectiva fique para as futuras gerações. Assim, considerando o homem como agente da história, e não, uma dissociação dessa, se apercebe desta maneira, o fato de que os museus, bem como as sociedades, se transformam.


A questão é como resgatar a verdadeira memória fragmentada dos objetos musealizados que perderam sua primeira função cultural de uso, para narrar a história social de um indivíduo ou grupo. Trabalhar a memória em um museu enquanto sistema social significa a existência de uma organização complexa que deve ser baseada em processos de comunicação como: trabalhos educacionais, pesquisas, preservação, restauração, e tendo na exposição o seu principal elemento de comunicação com a sociedade. Portanto, todos os acervos etnográficos, os iconográficos são ainda os verdadeiros cronistas da cultura social.


Considerando a importância da instituição maçônica no contexto histórico do Brasil, desde o tempo colonial com Arruda Câmara que em 1796 funda o Areópago[1] de Itambé, bem como, a contribuição efetiva de maçons na decisão da permanência de D. Pedro I no Brasil, a Independência, D.Pedro II, a Abolição da Escravatura, a República entre outros feitos, mostra a total relevância da presença maçônica no Museu Histórico Nacional que resgata com alguns objetos constantes de seu acervo uma época da História do Brasil, bem como os personagens construtores desta história.
A presença maçônica em solo brasileiro inicia-se com a vinda da família real que chega ao Brasil em 1808 com grande contingente de nobres da corte portuguesa dentre eles iniciados em Lojas Maçônicas. Homens que, dentro do contexto social que viviam, não achavam prudente a formação de indivíduos de outros segmentos da sociedade para ingressarem na iniciação maçônica, exceto os religiosos.

Com os fatos políticos que ocorrem no século XIX, a Maçonaria brasileira passa a contar em seus quadros com homens de bom nível financeiro, principalmente os militares. Constatando que homens maçons religiosos, militares, aristocratas entre outros seguimentos da sociedade contribuíram e deram a vida em movimentos sociais, não só exercendo influência na filosofia política da nação, mas também pelos princípios contidos na sua formação, que tinha como objetivo principal o processo de construção do Estado Brasileiro.

Essa construção e idéia de liberdade era considerada como um atentado contra a coroa portuguesa, para evitar a pena capital, e dissimular os ideais de liberdade e as perseguições surgem às academias onde os maçons se reuniam e por isso se apresentavam como associações literárias para disfarçar as suas reais intenções.

A Maçonaria tem como proposta ser uma instituição filosófica, filantrópica, educativa e se caracteriza por ser progressista onde a Liberdade, Igualdade e Fraternidade são seus fins supremos. Considerando a importância da instituição maçônica no processo histórico do Brasil, optamos em analisar o acervo maçônico do Museu Histórico Nacional, que é composto, no momento de quinze peças, devidamente identificadas, necessitando de pesquisa em relação à simbologia, o que em nada invalida a análise deste acervo.

O cervo maçônico utilizado como utensílios do cotidiano em sua época, contem elementos artísticos em suas composições, como por exemplo: a xícara de consomê em porcelana do Visconde de Vieira da Silva[2], personalizada com sua figura, bem como o tinteiro de ferro fundido e pintado que pertenceu ao Barão de Torres Homens onde um crânio humano com tíbias cruzadas, representa a putrefação alquímica, e as tíbias cruzadas fazem referência à cruz de Santo André que simboliza a perfeição espiritual. Logo, seu proprietário era um Mestre pois essa simbologia é uma das quais representam o 3º grau maçônico.

Consta também do acervo objetos de auxílio e conforto pessoal, como um leque em madrepérola, papel e metal pintado com cena alusiva à independência do Brasil, ladeada por motivos maçônicos. Caneta de ouro, brilhante cinzelado e engastado que pertenceu a Francisco Baltazar da Silveira, maçom da Loja Esperança, uma magnífica peça que tem formato de pena de ave.
Afora, utensílios utilitários, o Museu Histórico Nacional tem sob sua guarda instrumentos autênticos utilizados em rituais maçônicos, destaco duas peças de indumentária: O avental, adorno essencial do Maçom, símbolo do trabalho e faixa, que lembra o talabarte, um signo da ação, de uso não obrigatório, que supostamente pertenceram a D.Pedro I, doação da Viscondessa Cavalcanti.

O Avental
O avental em tecido de seda branca e veludo contém bordados e aplicações em fios metálicos e lantejoulas. Sua forma quadrangular, arredondadas nas extremidades, carrega no seu ponto central uma cruz raiada e logo a baixo um pelicano com 5 filhotes em seu ninho. Ainda, no avental alguns símbolos maçons e rosa-cruz, como a rosácea e o cálice bem como inscrições do alfabeto maçônico. A abeta[3] carrega um triangulo raiado, a faixa de sustentação do avental trás pendente uma borla .
A peça tem 33 centímetros de largura e 34 centímetros de comprimento, passou por um longo processo de restauração que lhe devolveu suas características originais e o seu atual estado de conservação é excelente.



A Faixa
A faixa, por ser um adorno não obrigatório nos rituais, os símbolos bordados que a ornam são facultativos. Usada do ombro direito ao flanco esquerdo tem sua cor e características de acordo com o Rito.

A faixa maçônica que supostamente pertenceu a D.Pedro I é uma peça de seda branca forrada também em seda. Bordada com fios metálicos, lantejoulas e aplicações, carrega na face da frente uma águia bicéfala, lembrando que o maçom de maneira geral deve observar os fatos passados para construir um futuro promissor. Não podemos afirmar que esta aplicação seja da cor preta pois a mesma está oxidada. A cima do animal alguns ramos de acácias e um círculo contendo um triângulo raiado que carrega o número 33. Representação do grau máximo maçom, dependendo do Rito em que ele se insere.

Acima do triângulo a cruz de malta em vermelho, que representa o eixo do mundo, simbolizando as virtudes espirituais e o ardente amor por Deus e pelo próximo. Está fixada por um suporte de filó.

Na face detrás da faixa inúmeros círculos e estrelas bordados com fios metálicos e lantejoulas. Bem como, toda sua borda. Na união da faixa uma aplicação em forma de rosácea ladeada de folhagem, findando a extremidade com uma borla metálica.

A peça possui 97 centímetros e 50 milímetros de altura e 12 centímetros e 70 milímetros de largura, passou por um longo processo de restauração sendo seu estado atual de conservação excelente.



Acervo maçônico sob a guarda do Museu Histórico Nacional:

Malhete ou maço - espécie de martelo em metal dourado que supostamente pertenceu a D. Pedro I
Espadim em cobre e aço dourado
Xícara de Consome em porcelana
Caneta de ouro e brilhante
Gládio ou espada de dois gumes em aço
Avental Maçônico em tecido bordado com fios dourados
Faixa Maçônica tecido bordado com fios dourados
Distintivo em algodão bordado com fios dourados e pedras lapidadas (fragmento)
Distintivo em algodão bordado com fios dourados, paetês e uma pedra vermelha lapidada (fragmento)
Distintivo em algodão bordado com paetês, miçangas e pedras vermelhas lapidadas(fragmento)
Distintivo em algodão bordado com fios dourados e paetês (fragmento) - registro nº 017.700
Avental Maçônico em seda e veludo
Faixa Maçônica em seda com fios metálicos
Tinteiro em ferro fundido e pintado
Leque em madrepérola, papel e metal

Considerações Finais
O conhecimento através de estudos antropológicos sob diversos aspectos sociais e culturais de um povo utilizando-se os acervos implica numa participação ativa da sociedade na vida pública, em alguns aspectos se pode reescrever fatos da história de uma nação levando o indivíduo a refletir para questionar, seu passado no presente, buscando um melhor posicionamento para o futuro, mais do que um direito individual, se assume um dever perante o coletivo.

O acervo maçônico sob a guarda do Museu Histórico Nacional tem por característica nos remeter a uma parte da história da formação da idéia de nação brasileira. As lutas e os ideais de homens que se destacaram em nossa sociedade, nobres, clérigos ou comuns merecem ser “restauradas” e apresentadas nas instituições museais.

Notas
BOUCHER,Jules. A Simbólica Maçônaria. Editora Pensamento. 1979 São Paulo-SP

[1] Do gr. Áreios págos, 'colina de Marte (Ares, na mit. gr.)', pelo lat. Areopagu. Tribunal ateniense, assembléia de magistrados, sábios, literatos, etc.: Dicionário Aurélio 2007
[2] Senador do Império (1871 / 1889) . Província do Maranhão (14ª e 20ª legislaturas)
[3] pequena aba

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